quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Andanças, ou , O Prazer do Trabalho


Estar aposentada me trás alguma culpa. Ah! Sempre ela ao meu lado. Herança cristã, de um colégio católico onde iniciei minha formação, ou quem sabe de pessoas que pretendendo "educar" os filhos, moldá-los, ao invés de formá-los, os deformam. Mas penso que não trabalhar possa ser um mal. Esqueço-me do quanto trabalho, atendendo às necessidades da minha casa e da minha família. Ajo como os preconceituosos que pensam que o trabalho dito "do lar" trabalho não fôsse. Porque não produz dinheiro? Produz outro tipo de frutos! Difícil está harmonizar em mim esta situação. Porque, talvez, este trabalho, para a família, me dá enorme prazer. Como se o outro, que exerci por bem mais de trinta anos, também, na maior parte do tempo, não fosse realizado com enorme prazer. Eu gostava muito do que fazia. Até que deixei de gostar. Ponto. Pronto.
Poderia discorrer exaustivamente sobre todos os motivos que conheço que me fizeram desgostar de uma profissão que amava tanto. Mas prefiro abordar as causas do prazer que me dá esta função que sem ser nova, pois que sempre foi concomitante à outra, agora posso (posso?) realizar em tempo integral.
A maior delas é expandir o tempo que tenho para conviver com os filhos. Quase um tanto quanto tarde, porque agora eles não vivem mais em minha casa. Pior, nem vivem na mesma cidade. Ou Estado. E para que eu possa estar com eles, como nunca pude estar antes, sou obrigada ( obrigada?) a estes deslocamentos. O que nem gosto né? (ironia, tá?) E por que viajar entre duas cidades para poder acompanhar uma das minhas "bebês" ao início do seu pré natal, associada a mais atendimentos às necessidades da casa, como problemas administrativos entre governo e lares, possa ser desconsiderado como trabalho, só porque gosto? Porque retornar de uma cidade à outra, onde tenho que cuidar de minha mãe(?) ao invés de ficar onde desejaria, em meu jardim, próxima a muitos amigos, não é considerado trabalho? E esta outra função, nem é prazeirosa. Apenas o lugar que escolhi para realizar esta função o é.
Chego de uma, mal desfaço as malas, ou melhor, não desfaço, apenas retiro a roupa suja, substituindo-a pelo equivalente limpo, pois sei que nova partida me aguarda. E sei que a cada vez que assisto um(uns), "desassisto" aos outros. E vou levando, tentando criar coragem, com a desculpa da "falta de tempo" para retomar as atividades ditas laborais que me permitiriam equilibrar o orçamento, pois os vencimentos de uma aposentada de nível superior, na minha área, são insuficientes, e quem equilibra meu orçamento são os filhos e suas contribuições. (Tipo mesada, ou bem mais que isso). Aí volta a culpa, porque mesmo tendo trabalhado toda a vida em torno de 100 horas semanais, incluindo plantões noturnos, o que recebia nunca foi suficiente para que eles tivessem mesada, ou um pouco de folga nas suas despesas, no atendimento de seus desejos, apenas o mínimo indispensável, e precisaram trabalhar cedo, pelo menos os mais velhos, ainda durante seus cursos universitários. Pois são melhores do que mereço.
Mas acabei não falando dos prazeres. Ou falei. São os filhos, suas conquistas, seu bom caráter. São as viagens entre suas casas. São meu direito de ir e vir, mesmo que compromissado. E desse direito, não quero, não queria ter que abrir mão. Afinal, estou aposentada. Por mais tempo de trabalho que exige a legislação. E pela idade mínima, da mesma legislação.

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Reinício em 11/02/2011